domingo, 2 de dezembro de 2012

Gajas & Inc.

Então, vamos lá começar! ‘Bora lá, Vasco, tem de ser engraçado. Não fales em desgostos, nem em experiências pessoais que te fazem tirar conclusões super interessantes acerca da grande problemática do sentido da tua própria existência, mais ou menos humana – eu sei que adoras o tema e que nunca consegues verdadeiramente abstrair-te dele, mas tenta, com força, sem deixar escapar gazes. Começa: levaram os cães. Que foi? Não sabem o que é levar cães? Meteram-nos numa caixa que, por sua vez, foi dentro dum porta-bagagens dum carro e levaram-nos. Eram os meus cães. Desde a minha mais tenra infância que os tinha em casa dos meus avós – meio rural, onde as pessoas deixam passar “dissestes” e “fizestes” sem correção e, muitas vezes, sem sequer saberem que o que acabaram de proferir constitui um crasso erro gramatical susceptível de um efeito idiossincrático atroz em qualquer alminha com o ínfimo vestígio inteletual. Chorei muito, é a verdade, para que é que havia de a esconder? Ao choro, seguiu-se uma tanta ou quanta revolta, que me levou a espancar umas tralhas. Resultado: as tralhas não deram sinais de terem ficado afetadas pela minha sova, os meus punhos sim. E com isto apercebi-me, numa mudança de estado espírito a puxar para a atividade introspetiva: “Espera lá, isto doeu. Para que é que me fui a armar em personagem de cinema irritado com a vida e com as suas fatalidades? Está bem que gosto de pensar que tenho aspirações ao mundo do Cinema, mas porra, era escusado ter partido dois dedos e ter deslocado outros dois.” Desta maneira, um pouco ingrata, concluí, foda-se, era amor que eu tinha pelos cães.

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