domingo, 2 de dezembro de 2012

Para a minha irmã

Hoje acordei e decidi escrever para a minha irmã. Porque embora não pareça - e note-se que é esse o objectivo - eu de facto nutro um grande amor por esta criatura do submundo. Mas não do género de amor de irmãos que há n'Os Maias, do pequeno Eça. Esse tipo de amor dá-me vómitos. Falo daquele amor fofinho que enquanto somos adolescentes está disfarçado num ódio parvo recheado de discussões e acusações e de divisão de tarefas caseiras chatas.
Bom, por onde começar? Já sei, a apresentação.
Senhoras e senhores, meninos e meninas, sem mais rodeios e disparates, apresento-vos a mestre dos mestres do não posso fazer porque estou ocupada, a licenciada e mestrada em zapping, a rainha das preguiçosas, a profeta dos calões, Marta, que de agora em diante, porque me apetece, se vai chamar Urina Pacova. Já agora este nome é giro.
Há várias pequenas coisas que podem resumir e descrever a minha irmã.
Primeiro, tem um excelente talento para a teatralidade. De facto, muitas foram as vezes que apanhei com o chinelo ou que fiquei de castigo graças às suas falsas birras. Orgulho. Há de ser uma excelente actriz. Ou então não.
Segundo, no que toca a artes dadaístas, ela foi um génio. Na sua infância tinha o hábito de escrever o seu nome em tudo quanto era sítio. O que por um lado era óptimo. Se alguém vinha jantar lá a casa e dizia em modo de elogio - que bonito móvel! - a resposta era sempre - queres antes dizer que bela obra de arte. Hoje ela resume-se a fazer playback de grandes músicas e grandes sons da actualidade. Note-se que fui aldrabão agora. Ela faz playback de músicas foleiras e meio paneleiras como Dragostea Din Tei dos O-Zone, porque parou no tempo. Ou esse sou? Não interessa, continuando...
Terceiro, é uma mulher forte. A sério. Ela tem quase a minha altura e eu tenho medo dela. Consegue-me pegar ao colo. Houve uma vez que ela deu-me porrada. Mas depois arrependeu-se porque eu fiz uma falsa birra e chamei os meus pais. Vingança! - pausa para risada maléfica. Ou então não se arrependeu nada porque a resposta dos meus pais foi: primeiro, levaste tareia de uma miúda, segundo, levanta-te do chão porque não tens idade para birras. Merde, pensei eu. Estalo, levei eu, porque a minha irmã tem o talento de ler os pensamentos.
Esse é o quarto ponto - ler as mentes. Ela diz que lê. Se é verdade ou mentira não sei. Mas não vou contrariar.
Quinto, faz musculação e pratica karaté.
Sexto, é linda de morrer.
Sétimo, o possível leitor provavelmente já está a desconfiar que estou a ser demasiado simpático para quem no inicio do texto estava a "avacalhar" com a sua irmã. Bom, é fácil de explicar esta mudança de racíocinio, é que ela entretanto apareceu e desde então que me está apontar uma pistola enquanto come montes de bolachas e não partilha nenhuma comigo. Sacana invejosa. Retiro o que disse, ela atirou-me as migalhas à cara e foi se embora. Que miúda fofa.

Duarte Henriques

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