Talvez seja eu que tenha a mania da perseguição mas cheirou-me a conspiração, por isso dediquei-me à investigação. Vesti-me porque estava frio e pus-me de fato e gravata, gabardine e chapéu na tola, todo de preto, como se fosse para um funeral, com óculos escuros não da Ray Ban mas do Rei Bane, que comprei na feira a um professor Mamadu, e cigarrinho na boca só para dar ainda mais estilo e fui analisar a situação.
A observação levou-me a pensar que fosse uma visita de
estudo qualquer, mas cheguei rapidamente à conclusão que tal não era possível.
Embora o ISCSP seja um conhecido e aclamado centro de
diversidade, um verdadeiro fórum político, um local de intenso debate de ideias
e teorias, onde se encontram as mentes mais brilhantes da nossa nação, seria
muito mais interessante para um bando de crianças ir ver uma pedra ou olhar
para o céu do que ir visitar esta ilustre faculdade.
Telefonei ao meu fiel companheiro, Saúl Ramon, porque já
tinha mais de 30 anos de experiência na área de investigação e nas artes manhosas
de detectives, que veio ter comigo e levantou uma questão que mudou o rumo da
minha vida no ISCSP, “e se eles estiverem a estudar aqui na faculdade?”.
Saúl massajou o seu farfalhudo mustache, como ele dizia em
estrangeiro para parecer muito mais sábio e culto, e eu acendi um novo cigarro.
Fiquei chocado, de repente tudo pareceu fazer sentido. O meu queixo caiu
figurativamente no chão. Mas foi porque sofri um golpe karaté de uma das
crianças que eu estava a investigar.
Acordei no fosso em frente ao ISCSP, sem as minhas roupas de
detective, mas com roupa de marca de caloiro e t-shirt de curso. Chovia a
potes. Saúl estava ao meu lado, inconsciente, e com um fato do super-mário
vestido. Sempre desconfiei que ele nas horas vagas fosse canalizador. Aquele bigode não engana ninguém. Ouvi
gritos que vinham lá de cima, do parque de estacionamento mesmo em frente ao
edifício, e subi a escadas, escadas essas que iam dar ao fosso por razão
nenhuma.
Era semana de praxe. Trajados davam ordens e os caloiros
obedeciam.
Até aqui, tudo normal, à excepção de dois detalhes, a semana
de praxe não é em Abril, e os trajados eram crianças, as crianças que eu tinha
investigado antes de ter levado um golpe que me pôs KO. As crianças tinham
invadido o ISCSP!
- Ó CALOIRO, PORQUE É QUE NÃO ESTÁ AQUI COM OS OUTROS? - gritou uma das crianças trajadas.
Não vos sei explicar porquê, mas só sei que bloqueei e na altura, temi aquelas crianças...amanhã pelos vistos, vai ser o meu batismo outra vez.
continua mais tarde...
Duarte Henriques
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Duarte Henriques