terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Escrevi

Olhem para esta gente! Falam da atualidade desportiva, escrevem só por escrever, sem tema, tentam alcançar o público, através de ações e apetites comuns, a todos nós, e fortuitos dos nossos dias de todos os dias. Inventam histórias ridículas, quase impensáveis, improváveis, criam trocadilhos de todo toscos, fáceis, ligeirinhos. Não magoam, nem curam, não constroem, nem destroem coisa nenhuma. Ficam-se pelo arroto inodoro e silencioso. E ainda assim, Leiam-me!, gritam eles até fazer ferida e, nem por isso, os lêem. Que despiedado ser, o humano! E continua a gritaria, ainda que, por vezes, muda e dissimulada. Ninguém percebe que está tudo dito, não há mais nada a acrescentar, alguém já escreveu esta mesma frase, não sou o primeiro nem o último (sim, porque as tentativas de escrever qualquer coisa completamente nova e original multiplicam-se à velocidade de medíocres rasgos de inteligência, por todo mundo, a todo o instante). "As palavras estão gastas" como dizia Eugénio de Andrade e, para além de estarem gastas, não há uma única combinação entre elas que não tenha já sido feita. Todas as frases já foram concebidas. "Vem para casa!" "Fica comigo." "Gostava, queria, que, por mais que desprezem a seguinte frase, a aceitem como sendo vossa." Ah sim, mesmo a mais complexa estrutura frásica já foi conseguida. Mesmo a maior incoerência. Mas sabem que mais? Eles vão continuar a berrar desalmadamente para que os leiam e, eventualmente, por uma vez ou outra, vocês lê-los-ão só para ver em que ponto é que o desespero vai no campo da escrita.

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